Tuesday, January 23, 2007

"Homem da cabine!"

É estranho olhar para trás e perceber a maneira como decidi escolher a profissão que hoje tenho. O primeiro ponto que me fez abraçar a vida docente foi - férias! Muitas, tantas! Enquanto criança, adolescente e jovem, as férias pareciam períodos mínimos de tempo, que fugiam mais depressa que o meu tamanho de sapatos em época de saldos. Nunca tinha tempo para nada, mas era uma alegria. Por analogia, os professores teriam esse mesmo tempo para por em dia o sono. Sim, porque quando eu tinha 14 anos pensava que a vida de professor era chegar à sala, escrever um sumário inventado ena altura, fazer a chamada, escrever no livro de ponto e dizer mal da minha geração. Erro, tão grande é o erro. Facto é que muitos até têm estes comportamentos, por isso é que acho muito bem a posição da nossa actual ministra. Avaliem os professores todos pela mesma medida! Cada um em seu ciclo, obviamente, e que a idade deixe de ser motivo para se subir na carreira. Querem subir trabalhem. - Se eu fosse contar a vida da minha tia Rosinha, acho que depressa ela caía do altíssimo escalão em que está! Mas agora já é tarde. Não a vão avaliar e a senhora vai-se aposentar com uma farta reforma depois de ter passado anos a chorar, e cito, "sempre que um aluno meu não consegue transitar, pobrezinhos". Pobrezinhos são pessoas que não têm o que comer.
Assim chegamos ao ponto que eu quero.
Se somos todos avaliados, eu, que trabalho num colégio particular, também vou ser igualmente avaliado como um professor do ensino estatal? Os critérios são os mesmos? Se forem, não faz sentido! Afinal o nosso tempo de serviço não é reconhecido para efeitos de concurso às escolas do estado.
Não, não estamos a roubar lugares aos professores que trabalham arduamente para arranjar colocação. Apenas - eu e os meus colegas - nos sujeitamos a ter dois patrões - o estado e o director ou reitor - que nos medem os passos, exigem triplamente de nós e no final querem resultados de excelência porque "os país pagam e querem o melhor!".
Feitas as contas, e não sendo este um lugar cómodo para se trabalhar, pois à minima falha somos despedidos, o nosso trabalho não vale nada.
Por vezes sinto que estou a ensinar só por amor à camisola. Porque gosto daquilo que faço e porque dá-me gosto ver a evolução das crianças. Os alunos transitam e o valor do que lhes ensinamos permanece. E o valor do professor que ensina e não tem o merecido crédito de tempo de serviço equivalente ao do estado? Sim, todos nós, professores do particular, ambicionamos um dia dar aulas no estado. Estaria a mentir se não o dissesse.
Não quero mais dinheiro, só o devido valor. Afinal, somos todos professores.

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